Rios voadores são a chave para o ponto de inflexão da Amazônia, revela novo relatório
Uma análise inovadora mostra como os "rios no céu" conectam o destino de toda a floresta tropical e identificam quais regiões estão em maior risco.
Washington, DC, 16 de setembro de 2025 - A Amazônia não entrará em colapso em todos os lugares ao mesmo tempo. Um novo relatório especial do Programa de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP) da Amazon Conservation revela como os "rios voadores" determinam quais regiões da Amazônia correm maior risco de atingir o ponto de inflexão que transformará florestas tropicais insubstituíveis em savanas secas.
Os "rios voadores" são rodovias de umidade na atmosfera, como rios de chuva no céu, que viajam do Oceano Atlântico até a Cordilheira dos Andes e fornecem recursos hídricos vitais para os nove países que formam a Bacia Amazônica. Eles são a força silenciosa e invisível que impulsiona o ciclo da água em toda a região, possibilitando as chuvas que dão à Amazônia o título de "floresta tropical". Como esse delicado "rio voador" é
interrompido pelo desmatamento causado pelo homem e pelos efeitos das mudanças climáticas, o impacto sobre as pessoas, a natureza e a vida selvagem será catastrófico, podendo incluir a extinção de espécies, o aumento das secas e a falta de acesso à água, além do fim da floresta como a conhecemos.
A análise mais recente da Amazon Conservation identificou que as principais áreas da Amazônia peruana e boliviana são mais suscetíveis às consequências negativas do colapso dos rios voadores da região. Isso inclui áreas no sul do Peru e no norte da Bolívia, que abrigam alguns dos lugares mais icônicos e biodiversos do planeta, como o Parque Nacional Manu e o Parque Nacional Madidi, que juntos protegem 8,9 milhões de acres de florestas ricas, desde os altos Andes até a planície amazônica.
Corine Vriesendorp, Diretora de Ciências da organização irmã peruana da Amazon Conservation, Conservación Amazónica-ACCA, supervisiona três estações biológicas ao longo de um gradiente altitudinal próximo ao Parque Nacional de Manu: "Essa pesquisa mostra que alguns dos lugares mais selvagens do planeta, como Manu, estão correndo um risco tremendo. Precisamos nos unir em toda a Amazônia para proteger esses incríveis rios voadores para termos uma chance de evitar o ponto de inflexão." As áreas identificadas por esse relatório como as mais vulneráveis a um possível ponto de inflexão dependem diretamente do ciclo contínuo e ininterrupto da água fornecido por esses rios voadores, que começa nos países amazônicos que fazem fronteira com o Oceano Atlântico, como o Brasil e a Guiana. O estado de desmatamento e conservação nesses países do lado "oriental" da Amazônia determinará a quantidade de água que chegará aos países do lado "ocidental" da região, como Peru e Bolívia, mostrando a interconexão dos ecossistemas da floresta tropical que vai além das fronteiras dos países.
Uma ameaça que ultrapassa fronteiras
"A Amazônia ocidental depende de rios voadores para trazer água do Oceano Atlântico, atravessando milhões de acres de florestas na Amazônia oriental antes de chegar lá", disse o autor principal Matt Finer, especialista sênior em pesquisa e diretor da iniciativa MAAP da Amazon Conservation. "Portanto, a sobrevivência das florestas tropicais no Peru e na Bolívia depende, na verdade, de florestas intactas no Brasil a leste, pois se essas florestas forem destruídas, o ciclo da água que cria os rios voadores será interrompido e não poderá chegar à Amazônia ocidental. Está tudo conectado".
Finer destaca que uma importante contribuição dessa análise é que ela revela que, ao contrário do equívoco comum de que o ponto de inflexão ocorrerá repentina e uniformemente em toda a região, ele provavelmente ocorrerá progressivamente, começando em áreas particularmente vulneráveis e aumentando a partir daí.
As mudanças sazonais também intensificarão o impacto sobre essas áreas vulneráveis. Como as florestas tropicais tendem a ter apenas duas estações (úmida, ou chuvosa, e seca), a quantidade de água transportada pelos rios voadores é significativamente limitada durante as estações secas e exacerbada pelo desmatamento causado pelo homem e pelos efeitos das mudanças climáticas, como as secas.
Daniel M. Larrea, Diretor de Ciência e Tecnologia da organização irmã boliviana da Amazon Conservation, Conservación Amazónica-ACEAA, acrescentou que "este relatório esclarece o papel fundamental que os rios voadores desempenham na preservação das florestas em pé e no acesso à água na Amazônia. A compreensão de sua dinâmica nos permite proteger melhor as regiões vulneráveis no Peru e na Bolívia, onde a conservação não é apenas uma prioridade local, mas um imperativo regional. A ciência, a inovação e a tecnologia devem orientar nossas ações para garantir que essas florestas possam sobreviver e prosperar para as próximas gerações."
Chamada urgente no período que antecede a COP30
Essas descobertas chegam em um momento crucial, com a COP30 se aproximando em Belém e os países negociando suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atualizadas, que estabelecem seus planos de ação climática no âmbito do Acordo de Paris. Ele destaca como a conservação da floresta é fundamental não apenas para as metas climáticas, mas também para a segurança hídrica de milhões de pessoas e animais selvagens que vivem na Amazônia e para a sobrevivência coletiva de ecossistemas inteiros além das fronteiras dos países. As decisões e políticas tomadas pelas autoridades brasileiras moldarão diretamente os padrões de chuva nos países vizinhos, tornando essencial a cooperação internacional.
Essa análise inovadora foi possível graças à Leo Model Foundation, em colaboração com nove cientistas e pesquisadores de toda a Bacia Amazônica. Ela representa o primeiro mapeamento abrangente de rios voadores em estações úmidas, secas e de transição, com uma extensa revisão da literatura.
Leia o relatório completo aqui.
Sobre o MAAP
O Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP), uma iniciativa da Amazon Conservation, Conservación Amazónica-ACCA (Peru) e Conservación Amazónica-ACEAA (Bolívia), fornece análises técnicas de ponta e em tempo real sobre desmatamento e incêndios na Amazônia. O MAAP utiliza imagens de satélite, ciência de dados e informações de campo para gerar relatórios oportunos que apoiam ações e políticas de conservação.
Sobre a Amazon Conservation Association
A Amazon Conservation é uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalha há 25 anos para construir uma Amazônia próspera. A abordagem holística da organização concentra-se no trabalho com parceiros e aliados locais para proteger lugares selvagens, capacitar pessoas e colocar a ciência e a tecnologia a serviço da conservação. Visite amazonconservation.org para obter mais informações.
Contatos com a imprensa
Priscila Steffen, Gerente de Comunicações e Relações Públicas - psteffen@amazonconservation.org
Ana Folhadella, Diretora de Filantropia e Comunicações - afolhadella@amazonconservation.org
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