O Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 do Painel Científico para a Amazônia, intitulado "Conectividade da Amazônia para um Planeta Vivo", reúne ciências que apoiam a conectividade ecológica e sociocultural como a principal estratégia para conservar os ecossistemas amazônicos, promover o desenvolvimento sustentável e contribuir para o bem-estar humano e ambiental. A conectividade ecológica e sociocultural é definida como a interconexão entre sistemas ecológicos e sociais e descreve o fluxo e o movimento de recursos, informações e pessoas dentro e fora das fronteiras geopolíticas.
Neste relatório, concentramo-nos em oito dimensões da conectividade, dedicando um capítulo a cada uma delas: conectividade regional a global (Capítulo 1), interrupções na conectividade (Capítulo 2), conectividade para a saúde (Capítulo 3), colaboração transfronteiriça (Capítulo 4), conectividade dos povos amazônicos (Capítulo 5), conectividade em paisagens de produção (Capítulo 6), conectividade para socioeconomias (Capítulo 7) e conectividade do conhecimento (Capítulo 8). Cada capítulo é seguido por Chamados à Açãodocumentos Chamados à Açãoassociados que enfocam problemas específicos que precisam ser resolvidos e exemplos de soluções que estão sendo implementadas atualmente na Amazônia por diversos atores.
O Resumo Executivo destaca as principais conclusões do Relatório de Avaliação da Amazônia 2025, organizadas em três seções. A primeira seção identifica os principais fatores subjacentes (modelos econômicos atuais, atividades ilícitas, governança ineficaz e mudanças climáticas globais) que estão afetando negativamente a conectividade da Amazônia. A segunda seção destaca os riscos que esses fatores apresentam para os sistemas ecológicos e sociais da Amazônia. Por fim, na última seção, apresentamos cinco recomendações abrangentes que destacam os caminhos a seguir para conservar a Amazônia, evitar pontos de inflexão e contribuir para a sustentabilidade de um planeta vivo, fortalecendo o bem-estar, o conhecimento e os direitos dos povos da Amazônia.
Marielos Peña-Claros
Grupo de Ecologia e Manejo Florestal, Wageningen University & Research, Wageningen, Holanda marielos.penaclaros@wur.nl
Carlos Nobre Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil cnobre.res@gmail.com
Nina Hylkje Witteveen Grupo de Ecologia e Manejo Florestal, Universidade e Pesquisa de Wageningen, Wageningen, Países Baixos n.h.witteveen1995@gmail.com
Resumo
A Amazônia está ameaçada pelo desmatamento, pela degradação ambiental e pela mudança climática, com mudanças ocorrendo a taxas sem precedentes. A conservação da Amazônia requer uma abordagem integrada e transdisciplinar que considere as profundas interconexões da região - entre sistemas geológicos, sistemas climáticos, ecossistemas, povos e sistemas de governança - para moldar um caminho eficaz e inclusivo para o desenvolvimento sustentável. Este relatório de avaliação tem como objetivo fornecer soluções acionáveis e com base científica que possam conservar e restaurar ambientes, sociedades e economias amazônicos saudáveis. Nosso foco é manter e restaurar a conectividade ecológica e sociocultural da região, que é definida como a interconexão dentro e entre sistemas ecológicos e sociais e depende do fluxo e do movimento de espécies, recursos, informações e pessoas. Oito dimensões da conectividade ecológica e sociocultural são destacadas, juntamente com algumas das soluções atuais e intervenções inovadoras que estão sendo criadas, desenvolvidas e implementadas por diversos atores em várias escalas espaciais e temporais. Esperamos inspirar nossos leitores a buscar soluções de longo prazo que sejam escalonáveis, justas e adequadas à nossa visão de uma Amazônia viva.
José A. Marengo
Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, São José dos Campos, Brasil. jose.marengo@cemaden.gov.br
Jhan Carlo Espinoza Institut des Géosciences de l'Environnement, IRD, CNRS, Université Grenoble, Grenoble, França jhan-carlo.espinoza@ird.fr
Adriane Esquivel Muelbert Departamento de Ciências Vegetais, Universidade de Cambridge, Cambridge, Reino Unido
Escola de Geografia, Ciências da Terra e Ambientais, Universidade de Birmingham, Birmingham, Reino Unido
a.esquivelmuelbert@bham.ac.uk
Resumo
A Amazônia é um sistema complexo de ecossistemas vibrantes e interconectados e culturas humanas, abrigando a maior diversidade de espécies da Terra. As muitas conexões na Amazônia, que ligam a biosfera e a atmosfera, a hidrologia e a biodiversidade, são fundamentais para a biodiversidade global, a estabilidade do clima global e, portanto, para o bem-estar da humanidade. A floresta amazônica recicla entre 30% e 50% de suas chuvas e exporta umidade que molda os padrões de precipitação em toda a América do Sul por meio de "rios aéreos". O aumento do desmatamento, os incêndios florestais extremos e a frequência de eventos compostos de seca e calor geram preocupações quanto à possibilidade de grandes porções da floresta amazônica sofrerem degradação significativa. Essas mudanças exacerbam a crise climática em escalas locais, regionais e globais que, por sua vez, comprometem a conectividade amazônica e aumentam a vulnerabilidade humana mundial. O clima da Amazônia influencia e é influenciado por fenômenos atmosféricos de grande escala que ligam o tempo e o clima a grandes distâncias, conhecidos como teleconexões. A floresta amazônica sustenta outros biomas e atividades econômicas para regiões como o Pantanal, a Bacia do Rio da Prata e a Bacia do Rio Orinoco (conectividade N-S e S-N). O sistema hidroclimático Andino-Amazônico (conectividade E-W e W-E) está em conformidade com um sistema de interação bidirecional, no qual a Amazônia exporta vapor de água para os Andes por meio de rios aéreos, e os Andes exportam fluxos fluviais, sedimentos e nutrientes para a Amazônia de baixa altitude. A diminuição da conectividade dos rios durante as secas extremas isola as comunidades locais e compromete sua segurança alimentar e hídrica; as enchentes abaixo da média também podem prejudicar as atividades dependentes da planície de inundação, como a pesca. Sem ações que impeçam uma maior degradação, as florestas amazônicas estão se aproximando de limites ambientais críticos que ameaçam suas funções ecológicas, sua biodiversidade e suas conexões culturais.
As conectividades globais e regionais críticas da Amazônia incluem a atmosfera, a hidrologia, o ciclo do carbono, a terra, a biodiversidade, as sociedades e suas interações. Para mitigar a pressão e os impactos, é essencial salvaguardar as várias formas de conectividade e reconhecer que as ações em uma região podem afetar as funções em outra.
As economias ilegais na Bacia Amazônica - incluindo grilagem de terras, desmatamento ilícito, mineração e extração ilegal de ouro, tráfico de drogas e tráfico de animais silvestres - representam uma ameaça crescente à integridade ecológica, ao bem-estar humano e aos sistemas econômicos formais da região. Esses crimes não são isolados; eles formam um sistema interconectado que fragmenta as florestas, desloca os povos indígenas e as comunidades locais e prejudica o papel da Amazônia na regulação do clima e no apoio à biodiversidade. Impulsionadas pela demanda global, pela governança fraca e pela corrupção arraigada, as redes ilícitas reconfiguram o uso da terra, concentram o poder em mãos criminosas e cortam conexões críticas entre ecossistemas e culturas. Ao mesmo tempo, grupos de interesse dentro de instituições estatais e estruturas de governança local influenciam a legislação, capturam a regulamentação e legalizam práticas irregulares e ilegais, aprofundando ainda mais a degradação ambiental. A convergência dessas economias ilegais tem impactos ambientais negativos que colocam em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas, prejudicando os sistemas agrícolas e esgotando as fontes de alimentos silvestres. Povos Indígenas e Comunidades Locais - principais guardiões da conectividade amazônica - enfrentam agressões, violência baseada em gênero, deslocamento e erosão da autonomia territorial e cultural. A saúde pública também é ameaçada pela contaminação por mercúrio, pela poluição da produção de medicamentos, pela fumaça de incêndios florestais e pela disseminação de doenças transmitidas por vetores em paisagens degradadas. As consequências econômicas são complexas e de longo alcance. As atividades ilícitas corroem as receitas públicas por meio da sonegação de impostos e da evasão dos sistemas financeiros, além de impor custos econômicos, sociais e ambientais significativos. Esse ciclo vicioso prejudica o desenvolvimento de longo prazo, enfraquece as instituições e intensifica as pressões sobre ecossistemas e comunidades já vulneráveis. Este capítulo argumenta que as economias ilegais devem ser entendidas como fatores sistêmicos de fragmentação e instabilidade. Para enfrentá-las, são necessárias estratégias coordenadas e transfronteiriças que integrem a conectividade socioecológica à governança, protejam a autonomia dos povos indígenas e das comunidades locais e garantam sua segurança. A cooperação regional é essencial para enfrentar os crimes ambientais transnacionais, enquanto as iniciativas socioeconômicas regenerativas e inclusivas de alta integridade podem oferecer alternativas sustentáveis. O fortalecimento da capacidade do Estado, a transparência e as parcerias locais são fundamentais, e o comércio global deve estar alinhado com a proteção da Amazônia por meio da rastreabilidade, da devida diligência e do fechamento das brechas de lavagem de dinheiro ambiental.
Interconexões entre demanda global, economias ilegais, governança fraca e consequências ecológicas. Ele destaca como essas dinâmicas se reforçam mutuamente por meio da conectividade disruptiva, prejudicando a integridade ambiental e o bem-estar humano.
Sandra de Souza Hacon (Autora principal)
Autor principal) Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, sandra Hacon@fiocruz.br
Bruno Moreira de Carvalho Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil bruno.carvalho@ioc.fiocruz.br
Resumo
A Amazônia vem sofrendo uma convergência de pressões ecológicas, climáticas e sociopolíticas que ameaçam a integridade do ecossistema, a prestação de serviços ecossistêmicos e a saúde humana. Este capítulo destaca como o desmatamento, a fragmentação florestal, os incêndios florestais, a perda de habitat, a degradação do ecossistema e a mudança climática estão acelerando os riscos de doenças infecciosas emergentes, especialmente as ameaças zoonóticas e transmitidas por vetores, doenças relacionadas ao calor, poluição do ar causada por incêndios, insegurança nutricional e impactos gerais sobre a mortalidade. Também examina como as deficiências estruturais dos sistemas de saúde pública (subfinanciamento, inacessibilidade geográfica e exclusão cultural) exacerbam as vulnerabilidades das diversas populações da Amazônia, especialmente dos Povos Indígenas (PIs) e das Comunidades Locais (CLs). A pandemia da COVID-19, os recentes surtos de arboviroses e as persistentes desigualdades na saúde ressaltam a necessidade urgente de respostas integradas e equitativas.
Adotando uma perspectiva One Health, o capítulo propõe uma abordagem abrangente que posiciona a conservação do ecossistema como uma intervenção de saúde pública. As principais recomendações incluem a interrupção do desmatamento, dos incêndios florestais e da degradação, a incorporação de indicadores de saúde no planejamento climático e de uso da terra e o estabelecimento de plataformas regionais do One Health. O capítulo também enfatiza a necessidade de fortalecer a atenção primária à saúde, promover modelos interculturais que respeitem o conhecimento dos PIs e das CLs e aprimorar a vigilância comunitária e a cooperação regional. Ao vincular a governança ambiental à equidade em saúde, a Amazônia pode se tornar um modelo de resiliência em saúde planetária. A concretização dessa visão requer uma liderança política decisiva, investimento público sustentado e uma mudança em direção a uma sociobioeconomia baseada no manejo florestal, na justiça social e na colaboração científica.
Palavras-chave
One Health, doenças infecciosas, propagação, desmatamento, mudança climática
Resumo gráfico.
A conectividade ecológica é interrompida por diferentes pressões, aumentando as ameaças de doenças que surgem dessa interrupção. A estrutura do One Health é necessária para lidar com esses problemas.
A Bacia Amazônica abrange oito países e um território ultramarino, englobando mais de 100 unidades políticas subnacionais, cada uma com trajetórias históricas, patrimônio cultural e características ecológicas únicas. Este capítulo examina as dimensões ecológicas, hidrológicas e socioculturais da conectividade, fornecendo uma estrutura para avaliar a saúde ambiental e a resiliência da região e de seus habitantes, ao mesmo tempo em que evidencia as principais medidas de melhoria. As abordagens de conservação que reconhecem as três dimensões são essenciais. Por exemplo, as Áreas Protegidas (APs) continuam sendo uma abordagem de conservação fundamental, mas sua eficácia depende da integração com as paisagens circundantes. Aqui, nos concentramos na conservação transfronteiriça, que exige cooperação além das fronteiras nacionais e internacionais, incluindo o compartilhamento de informações, a comunicação, a consulta, a ação coordenada e a implementação de decisões conjuntas. A governança transfronteiriça é essencial para a gestão de recursos compartilhados, como corpos d'água e corredores de áreas protegidas, nesse contexto complexo de metas concorrentes e interações em várias escalas. Apesar dos desafios complexos, a conservação transfronteiriça oferece um caminho para abordar práticas insustentáveis, fortalecer a resiliência ecológica e apoiar comunidades vulneráveis. Seu sucesso, no entanto, depende de abordagens inclusivas que considerem o monitoramento indígena e local, bem como o compartilhamento equitativo de dados. No entanto, a capacidade de governança na região amazônica, bem como os esforços para um planejamento territorial concertado e sistemas de dados coordenados, continuam insuficientes. Conforme declarado na Declaração de Belém, a governança transfronteiriça na Amazônia deve considerar tanto os Povos Indígenas (PIs) e as Comunidades Locais (CLs) quanto a governança ambiental institucional. A conservação transfronteiriça apresenta inúmeras oportunidades para a governança transfronteiriça e a cooperação regional, capacitando os PIs e as CLs, melhorando as condições socioambientais e promovendo a conservação e o monitoramento com base científica. A conservação transfronteiriça é mais necessária do que nunca, exigindo uma governança conjunta baseada no respeito à soberania nacional e orientada por uma visão integrada que conecte as APs, os Territórios Indígenas e as paisagens produtivas, garantindo a continuidade funcional desse ecossistema vital para o planeta.
Palavras-chave
Fatores de mudança, conservação transfronteiriça, conectividade ambiental, governança regional, monitoramento.
Resumo gráfico.
Transformações da conectividade ecológica, hidrológica e sociocultural da Amazônia com os elementos que interrompem, mantêm ou restauram as várias dimensões da conectividade. (1) Uma paisagem conectada e saudável que sustenta a natureza e as pessoas; (2) Enfraquecimento da conectividade por uma diversidade de fatores; (3) Surge uma paisagem degradada, marcada por incêndios e desmatamento; (4) A conservação e a restauração transfronteiriças ajudam a restabelecer a conectividade, embora a reconexão total permaneça incompleta.
Connectivities and Territorialities from the Perspectives of Indigenous Peoples, Afrodescendant Peoples, and Local Communities in the Amazon (Conectividades e Territorialidades a partir das Perspectivas dos Povos Indígenas, Povos Afrodescendentes e Comunidades Locais na Amazônia)
José Gregorio Díaz Mirabal Wakuenai - Povo Kurripaco, Atabapo, Venezuela Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas, Puerto Ayacucho, Venezuela
Coordenador de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, Quito, Equador gmirabal66@gmail.com
Simone Athayde World Resources Institute, Washington, DC, Estados Unidos simone.Athayde@wri.org
Luciana Villa Nova Silva Mangará.eco Inovação e Sustentabilidade Ltda., São Paulo, SP, Brasil luciana_villanova@hotmail.com
Resumo
Este capítulo aborda a conectividade na Amazônia a partir das perspectivas dos Povos Indígenas (PIs), dos Povos Afrodescendentes (PAs) e das Comunidades Locais (CLs). Ele destaca a profunda interconexão entre seus modos de vida, seus sistemas de conhecimento e seus vínculos com o território. A metodologia adotada é um exercício de reflexão que coloca as vozes de vários PIs, PAs e CLs no centro, em diálogo com o conhecimento científico e acadêmico. A territorialidade é apresentada como um pilar fundamental que interliga povos e comunidades com seus territórios de forma física, espiritual, sociocultural, simbólica e política. A noção de conectividade é proposta, de forma exploratória,
como um princípio vital e um modo de vida abrangente, transmitido ancestralmente por meio de códigos orais, memória coletiva e interações com os territórios e a diversidade biocultural da Amazônia. Em termos mais amplos, o processo de coprodução de conhecimento articula três eixos principais de reflexão sobre a conectividade: 1) diversas interpretações e abordagens do conceito de conectividade;
2) identificação de riscos e ameaças que colocam em risco essas conexões vitais; 3) ênfase em soluções promovidas pelos próprios povos e comunidades a partir de seus territórios.
A imagem mostra a conectividade na Amazônia (em azul), as ameaças que a afetam (em vermelho) e as oportunidades para fortalecer a reciprocidade com a Mãe Terra (em verde). A espiral central simboliza movimento, transformação e memória ancestral, e seu núcleo representa os territórios dos Povos Indígenas (PIs), Povos Afrodescendentes (PAs) e Comunidades Locais (CLs).
Joice Ferreira Embrapa Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Belém, Brasil joice.ferreira@embrapa.br
Eduardo S. Brondizio (Autor principal)
Autor principal) Department of Anthropology, Indiana University, Bloo- mington, IN, Estados Unidos ebrondiz@iu.edu
Resumo
Os sistemas de produção multifuncionais são administrados há muito tempo pelos Povos Indígenas (PIs) e pelas Comunidades Locais (CLs) na Amazônia. Esses sistemas fornecem alimentos juntamente com outros itens essenciais para uma boa qualidade de vida - como medicamentos, materiais artesanais e de construção - ao mesmo tempo em que sustentam a biodiversidade, as funções do ecossistema, o patrimônio cultural e as economias locais. Em contrapartida, os modelos de desenvolvimento dominantes promoveram monoculturas e pastagens extensivas, que agora ocupam a maior parte das áreas desmatadas na região. Apesar dessas mudanças, os sistemas de produção multifuncionais persistem ao longo do tempo, evoluem e formam a espinha dorsal das economias amazônicas que se baseiam na sociobiodiversidade. No entanto, eles enfrentam ameaças convergentes: invisibilidade estatística, erosão do conhecimento indígena e local, fragilidade econômica, declínio da produtividade, infraestrutura fraca, restrições de mão de obra e riscos climáticos crescentes. Este capítulo aborda a configuração atual dos sistemas de produção na Amazônia e suas principais implicações sociais, econômicas e ambientais, ao mesmo tempo em que considera suas contribuições para a conectividade da paisagem. Ele mostra como os sistemas de produção multifuncionais oferecem caminhos viáveis para a restauração de áreas degradadas e a adoção de usos da terra na Amazônia mais ecologicamente resilientes, climaticamente adaptáveis, economicamente viáveis, inclusivos e sustentáveis. Este capítulo também destaca as compensações socioeconômicas e ambientais inerentes às diferentes configurações de uso da terra, mostrando que os sistemas multifuncionais podem melhorar a integridade ecológica e, ao mesmo tempo, gerar empregos, fornecer produtos e apoiar o patrimônio cultural. Apresentamos caminhos e mecanismos que podem apoiar paisagens multifuncionais complexas. Esses caminhos e mecanismos incluem a transformação dos paradigmas de construção de conhecimento, dos sistemas de financiamento e da posse da terra, bem como a adaptação dos mecanismos de crédito existentes. Nossa abordagem também envolve a capacitação das comunidades para liderar empreendimentos comerciais e desenvolver cadeias de suprimentos de valor agregado, além de reformular as políticas públicas e a opinião pública em apoio aos sistemas de produção multifuncionais. Continuar a reconhecer e fortalecer os sistemas de produção multifuncionais desenvolvidos por comunidades indígenas e rurais é vital para moldar uma Amazônia futura que seja socialmente justa, social e ecologicamente conectada, adaptável e economicamente viável.
Palavras-chave
Sociobioeconomia, transição do uso da terra, conectividade da paisagem, bem-estar, paisagens multifuncionais
Marianne Schmink Centro de Estudos Latino-Americanos, Universidade da Flórida, Gainesville, FL, Estados Unidos schmink@ufl.edu
Resumo
Este capítulo enfoca a profunda interdependência entre os povos da Amazônia e seus ambientes. Essa interdependência forma a base das sociobioeconomias - sistemas de produção, troca e consumo que contribuem para uma Amazônia bem conectada por meio do uso sustentável e da restauração de florestas prósperas e rios caudalosos, beneficiando tanto as comunidades locais quanto o planeta como um todo. Diversas comunidades amazônicas compartilham uma conexão intrincada, baseada no local, com seus territórios e com os recursos naturais que sustentam sua subsistência e que têm o potencial de gerar produtos comerciais com valor agregado. A valorização dos sistemas de conhecimento com base territorial apoia os direitos e territórios dos PIs, APs e CLs que são exercidos por meio da governança local e dos sistemas de gestão de recursos. Esses elementos ajudam a promover o bem-estar e o compartilhamento equitativo de benefícios, deixando de ser a maximização do lucro o principal motor econômico e passando a sustentar a integridade do ecossistema e a intrincada rede de vida florestal e ribeirinha. O primeiro subtema do capítulo explora os princípios das economias locais autodefinidas, que estão enraizadas em sistemas de conhecimento cultural e social que promovem o bem-estar e a justiça. As socioeconomias locais incluem diversas iniciativas de povos indígenas e afrodescendentes, comunidades locais de pequenos proprietários e moradores urbanos. O segundo subtema enfoca o bem-estar além do âmbito humano, enfatizando o gerenciamento sustentável dos sistemas naturais. Ele destaca práticas ecológicas que sustentam a biodiversidade e respeitam os ciclos de vida biológica e os ritmos sazonais. O terceiro subtema trata de como superar os principais desafios e mitigar os riscos sem ultrapassar os limites ecológicos essenciais. Ele apresenta estratégias concretas para o avanço das socioeconomias baseadas no território que sustentam e melhoram os meios de subsistência locais, incentivam a criatividade e a diversificação do mercado e protegem a integridade das florestas e dos rios sob a administração de diversas comunidades locais.
Palavras-chave
Sociobioeconomia, conhecimento indígena e local, abordagem biocultural, território, cadeias de valor
Resumo gráfico.
Os subsídios que apoiam o desmatamento devem ser substituídos pelo apoio a socioeconomias que estejam intrinsecamente conectadas às florestas e aos rios biodiversos da região, apoiando os direitos da população local e gerenciando territórios e recursos de forma sustentável.
Adalberto L. Val Coordenação de Biodiversidade, Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, AM, Brasil dalval.inpa@gmail.com
Marina Hirota Departamento de Física, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil, e Instituto Relva, Rio de Janeiro, Brasil marinahirota@gmail.com
Andrea C. Encalada Instituto BIOSFERA, Laboratorio de Ecología Aquática, Universidad San Francisco de Quito, Quito, Equador aencalada@usfq.edu.ec
Resumo
Este capítulo explora a conectividade da ciência e da tecnologia na Bacia Amazônica, com ênfase especial na integração das ciências indígenas e locais (ILS) e das ciências acadêmicas ocidentais (WAS). Argumenta-se que a promoção da conectividade do conhecimento - ou seja, vínculos e feedbacks entre visões de mundo, epistemologias, metodologias, tecnologias e instituições - é essencial para enfrentar os desafios socioambientais da região e catalisar uma transição para um futuro resiliente e sustentável. O capítulo revela assimetrias estruturais nos sistemas de conhecimento, incluindo a sub-representação das contribuições dos povos indígenas e das comunidades locais, a fragmentação dos esforços nacionais e a visibilidade limitada da pesquisa produzida localmente. Enfatiza a necessidade de transformar a forma como o conhecimento é produzido, valorizado e financiado na Amazônia, integrando epistemologias e metodologias indígenas e suas contrapartes acadêmicas, garantindo o compartilhamento equitativo de benefícios e reforçando os direitos territoriais por meio de pesquisas participativas e transdisciplinares. Além disso, discute o potencial de conectar o ILS com tecnologias emergentes para aprimorar o monitoramento da biodiversidade, detectar a degradação ambiental e apoiar a formulação de políticas baseadas em evidências, incluindo imagens de satélite, DNA ambiental (e-DNA) e inteligência artificial (IA). O capítulo defende o desenvolvimento de capacidade, a infraestrutura digital e a governança de dados alinhados com os princípios FAIR (localizável, acessível, interoperável, reutilizável) e CARE (benefício coletivo, autoridade de controle, responsabilidade, ética) para garantir o uso ético e eficaz do conhecimento e o compartilhamento equitativo de benefícios. Por fim, o capítulo propõe critérios para avaliar a ciência amazônica por meio de uma lente contextual, incluindo a participação de cientistas de comunidades indígenas e locais, transdisciplinaridade, transferência de tecnologia e relevância social. Ao centralizar os sistemas de conhecimento plural e a equidade, a Amazônia pode se tornar um modelo global de desenvolvimento sustentável orientado pelo conhecimento.
Palavras-chave
Amazônia, ciências indígenas e locais, política de ciência, tecnologia e inovação, diálogos sobre conhecimento, sociobioeconomia.
Resumo gráfico.
Rede de conhecimento na Pan-Amazônia que integra ciências acadêmicas e ciências indígenas e locais e aplica estratégias-chave - transdisciplinaridade, governança de dados, colaboração inter-regional - e tecnologias emergentes como e-DNA, monitoramento por satélite e inteligência artificial para orientar a conservação e o desenvolvimento sustentável.
Dolors Armenteras
Departamento de Biología, Universidad Nacional de
Colômbia, Bogotá, Colômbia; Instituto de Ciências Florestais, Instituto Nacional de
Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria, Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Madri, Espanha darmenterasp@unal.edu.co
Camila C. Ribas Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, Brasil camilaribas@gmail.com
A visão geral
A Amazônia é um mosaico complexo e interdependente de ecossistemas que sustenta bilhões de vidas. O desmatamento causou a perda de cerca de 18% da região amazônica, e 38% da floresta remanescente está degradada, interrompendo a conectividade ecológica e sociocultural, acelerando as emissões de carbono, exacerbando a insegurança hídrica e alimentar, causando instabilidade econômica e enfraquecendo a resiliência climática. O sistema pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, com modelos indicando que as transições do ecossistema podem afetar até 47% da área florestal até 2050.
Renata Libonati
Departamento de Meteorologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Rio de Janeiro, Brasil & Universidade de Lisboa, Centro de Estudos Florestais e Instituto Dom Luiz, Lisboa, Portugal renata.libonati@igeo.ufrj.br
Bibiana A. Bilbao Universidade Simón Bolivar, Departamento de Estudos Ambientais, Caracas, Venezuela &
Université Paul Valéry Montpellier, Montpellier, França bbilbao@usb.ve
A visão geral
Os incêndios florestais extremos na floresta amazônica, intensificados pelas mudanças climáticas e eventos climáticos extremos (secas e ondas de calor), são impulsionados pelo desmatamento, agricultura, mineração e degradação florestal decorrente da extração de madeira e efeitos de borda, ameaçando a biodiversidade e as comunidades locais e emitindo fumaça e gases de efeito estufa (GEE). Antes raros em florestas úmidas, os incêndios florestais extremos agora correm o risco de empurrar os ecossistemas para pontos de inflexão irreversíveis, interrompendo os ciclos naturais, a saúde pública, os meios de subsistência dos PIs e das CLs e exacerbando as mudanças climáticas. A perda de terras dos Povos Indígenas e das Comunidades Locais (PIs e CLs) e a erosão de suas práticas tradicionais de fogo baseadas em manchas - que historicamente ajudaram a controlar a propagação do fogo e a manter a conectividade da paisagem - também contribuem para a crise climática. As atuais políticas de fogo zero na Amazônia, centradas na supressão, geralmente são ineficazes, caras e desprezam as práticas de fogo dos PIs e das CLs.
Paola A. Arias Grupo GIGA, Escuela Ambiental, Facultad de Ingeniería,
Universidad de Antioquia, Medellín, Colômbia paola.arias@udea.edu.co
A visão geral
O ciclo hidrológico da Amazônia é um sistema interconectado e complexo que abrange o maior sistema fluvial da Terra e múltiplas interações sociais e ecológicas. As águas superficiais dos rios se conectam ao longo das redes de drenagem e entre os rios e as planícies de inundação adjacentes. A terra está conectada a regiões distantes por meio de processos atmosféricos (os chamados "rios aéreos"). No entanto, essas diferentes dimensões ecológicas e socioculturais da conectividade têm sido ameaçadas por várias pressões, desde represas que interrompem as redes de drenagem até mudanças climáticas que isolam áreas como as comunidades ribeirinhas. Devido a esses fatores, precisamos urgentemente conservar os rios que fluem livremente e restaurar os rios interrompidos para restabelecer a conectividade ao longo dos cursos de água da Amazônia.
O financiamento climático é essencial para o aproveitamento dos diversos serviços ambientais da Amazônia em benefício do clima e das comunidades, oferecendo um meio de combater o desmatamento, ampliar a restauração e promover a conservação por meio de modelos como a sociobioeconomia. Atores privados, públicos e multilaterais mobilizam capital por meio de doações, crédito, capital próprio, financiamento misto, pagamentos por serviços ambientais (PES), mecanismos baseados em resultados, reestruturação de dívidas, créditos de carbono e instrumentos de compartilhamento de riscos. Embora o financiamento dedicado ao clima tenha crescido, os fluxos atuais permanecem insuficientes em relação à escala dos desafios de adaptação e mitigação1 . Há uma necessidade urgente de aumentar o financiamento climático para liberar todo o potencial da Amazônia no avanço da agenda climática global de acordo com a importância ecológica e a complexidade socioeconômica da região e, ao mesmo tempo, os mecanismos financeiros devem atender às necessidades e aos direitos das populações locais.
Gabriel Cardoso Carrero.
Equipe científica, Revalue Nature Ltd, Londres, Reino Unido e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM), Manaus, Brasil gabriel.carrero@revalue.earth
A visão geral
Os mercados ilegais de terras nos países amazônicos são um importante impulsionador da fragmentação territorial, com impactos de longo alcance que vão além da perda de florestas. Essa fragmentação desestabiliza os sistemas ecológicos e enfraquece gravemente as estruturas institucionais, jurídicas e sociopolíticas, facilitando a fragmentação persistente da governança, as ambiguidades jurídicas e os vácuos de poder. A apropriação ilegal de terras prospera nesses ambientes, onde as desconexões regulatórias nos níveis municipal, estadual e nacional prejudicam a governança territorial coesa. Para lidar com essa fragmentação estrutural, é necessária uma abordagem integrada e sistêmica que vise às causas básicas em vez de ações isoladas de fiscalização.
Abordar os danos socioambientais das atividades com drogas ilícitas
Autor
Juan C. Garzón Vergara
Vergara. Instituto Igarapé, Rio de Janeiro, RJ, Brasil jcg78@georgetown.edu
Héctor F. Santos Parceria Global sobre Políticas e Desenvolvimento de Drogas (GPDPD), Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), Berlim, Alemanha hector.santos@giz.de
A visão geral
Nos principais territórios da Amazônia, a produção e o tráfico de drogas ilícitas alimentam a degradação ambiental e o conflito territorial. Esses danos são impulsionados por um mercado global de drogas ilícitas em expansão e reforçados por fluxos financeiros ilícitos e sobreposição de economias legais e ilegais, aprofundando as pressões ecológicas e sociais. As respostas da política de crimes ambientais geralmente reproduzem abordagens punitivas de controle de drogas, concentrando-se nos sintomas em vez das causas básicas e impedindo estratégias integradas, preventivas e baseadas em direitos. No entanto, as respostas atuais continuam a ignorar essa dinâmica. Este Chamado à Ação pede que se repense a política de drogas por meio de uma lente ambiental - reforçando a aplicação da lei para proteger ecossistemas e comunidades, interrompendo o financiamento ilícito, integrando salvaguardas ambientais, promovendo transições sustentáveis e defendendo os direitos e os papéis dos povos indígenas e das comunidades locais.
Luis E. Fernandez
Centro de Inovação Científica Amazônica (CINCIA) e Sabin
Centro de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Wake Forest University,
Winston-Salem, NC, EUA fernanle@wfu.edu
A visão geral
Em toda a Amazônia, incluindo oito países e um território ultramarino da França, a mineração ilegal de ouro artesanal e de pequena escala (ASGM) está acelerando o desmatamento, interrompendo os sistemas hidrológicos e mobilizando mercúrio tóxico, ao mesmo tempo em que financia redes criminosas que corroem a autoridade do Estado, muitas vezes em territórios indígenas. Esses impactos mensuráveis e transfronteiriços agora superam o monitoramento e a fiscalização convencionais, prejudicando as metas climáticas e de biodiversidade, a saúde pública e a governança em toda a Bacia.
Este Chamado à Ação tem o objetivo de fornecer uma visão geral concisa da escala, dos motivadores e dos impactos da extração ilícita de ouro na Amazônia. Ele destaca os principais fatos e tendências, apresenta ferramentas e abordagens ilustrativas e aponta oportunidades de ação coordenada para desmantelar as cadeias de suprimento ilegais, reduzir o desmatamento e a perda de biodiversidade, coibir a poluição por mercúrio e fortalecer os direitos, a saúde e a segurança territorial das comunidades indígenas.
Em toda a Amazônia, os defensores socioambientais estão na linha de frente protegendo seus territórios e comunidades. Enfrentando a extração ilegal de madeira, a mineração, a grilagem de terras e o tráfico de drogas, bem como políticas que permitem a desapropriação, eles enfrentam a escalada da violência, a criminalização e agressores que agem com impunidade. Em 2022, um em cada cinco assassinatos de defensores ambientais ocorreu na Amazônia, tornando-a uma região de alto risco para aqueles que defendem a natureza. Esses crimes seguem padrões sistemáticos e organizados que enfraquecem as comunidades, ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e facilitam a exploração de recursos. Os compromissos assumidos na Declaração de Belém da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e os padrões estabelecidos pelo Acordo de Escazú (ou seja, o Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe) devem ser totalmente implementados para garantir os direitos dos defensores. A proteção dos defensores não é apenas um dever, mas um pré-requisito para preservar a conectividade socioecológica da Amazônia.
Ana Filipa Palmeirim Palmeirim. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará,
Guamá, PA, Brasil filipapalmeirim@ufpa.br
A visão geral
O desmatamento e as queimadas na Amazônia continuam a colocar em risco inúmeras espécies e a comprometer os serviços vitais do ecossistema, inclusive aqueles essenciais à saúde humana. Os incêndios florestais, por exemplo, produzem uma névoa tóxica que pode levar a doenças respiratórias e cardiovasculares e infecções em humanos; a mineração pode aumentar a concentração de mercúrio nas bacias hidrográficas, com efeitos tóxicos na pele e nos sistemas cardiovascular, pulmonar, urinário e gastrointestinal1,2. Quando prejudica a integridade da floresta, a mudança no uso da terra acaba favorecendo espécies que podem se adaptar a habitats antrópicos e também podem atuar como hospedeiros e vetores de doenças3. Como consequência, a abundância dessas espécies aumenta, elevando os riscos de transmissão de doenças zoonóticas e transmitidas por vetores. Além disso, a criação de bordas de florestas devido à fragmentação florestal também aumenta a probabilidade de contatos entre pessoas e animais na interface, aumentando ainda mais o risco de transmissão de doenças zoonóticas. Portanto, a conservação e a restauração das florestas são fundamentais para prevenir doenças e proteger a saúde humana.
Francisco Chiaravalloti-Neto Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo,
São Paulo, SP, Brasil franciscochiara@usp.br
A visão geral
As Américas Central e do Sul são reconhecidas como pontos quentes para doenças zoonóticas e transmitidas por vetores emergentes e reemergentes. A região tem registrado surtos frequentes de doenças infecciosas, algumas das quais, como a zika e a chikungunya, se tornaram grandes preocupações de saúde pública. Mais recentemente, os vírus Oropouche e Mayaro chamaram cada vez mais atenção. Esses patógenos podem evoluir, ganhar resistência e desencadear novos surtos. As mudanças climáticas e as condições meteorológicas extremas agravam ainda mais os riscos ao perturbar os ecossistemas e alterar a dinâmica dos vetores. Além disso, o desmatamento aumenta a probabilidade de eventos de propagação e permite que os vírus invadam áreas rurais e urbanas, destruindo os ambientes naturais de vetores e reservatórios. O controle eficaz das doenças arbovirais depende de coordenação, integração de dados, sistemas de saúde sólidos e ação rápida em ambientes de alto risco.
Mariana M. Vale
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia, Centro de Ciências
da Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil mvale.eco@gmail.com
Neil M. Vora Conservation International, Arlington, VA, Estados Unidos nvora@conservation.org
Thaísa de S. Araújo Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Ecologia,
Centro de Ciências da Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil thaisa.souza802@gmail.com
Bruno M. de Carvalho Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil bruno.carvalho@ioc.fiocruz.br
A visão geral
Cerca de 75% das doenças infecciosas emergentes (EIDs) - novas doenças infecciosas ou aquelas que estão aumentando em incidência - são causadas por patógenos que "transbordam" dos animais para as pessoas (patógenos zoonóticos). Os eventos de EID aumentaram desde a década de 1940 e a projeção é de que aumentem várias vezes nas próximas décadas. A degradação ambiental é uma das principais causas de EIDs. As principais vias de propagação incluem o desmatamento, a caça e o comércio de animais silvestres e a criação intensiva de gado perto de áreas naturais. A prevenção de pandemias exige o enfrentamento desses riscos, especialmente nas fronteiras de desmatamento da Amazônia.
Fortalecer os sistemas de vigilância da saúde da vida selvagem para alertas antecipados e prevenção de doenças
Autores principais
Paulo Colchao-Claux,
Wildlife Conservation Society, Lima, Peru pcolchao@wcs.org
Jorge Luis Martinez Wildlife Conservation Society, Lima, Peru jlmartinez@wcs.org
Kiara Acurio Wildlife Conservation Society, Lima, Peru kacurio@wcs.org
Rosa Vento Wildlife Conservation Society, Lima, Peru rvento@wcs.org
Mariana Montoya Wildlife Conservation Society, Lima, Peru mmontoya@wcs.org
A visão geral
A mudança no uso da terra, a infraestrutura inadequada, o tráfego de animais selvagens e a mudança climática degradam os ecossistemas da Amazônia e promovem o contato entre pessoas e animais selvagens, promovendo surtos de doenças e exposição a poluentes que afetam a saúde pública, a segurança alimentar, a biodiversidade e a economia. A vigilância da saúde da vida selvagem fornece um alerta precoce de doenças para permitir a prevenção e a proteção da saúde humana e animal, mas sua implementação continua limitada devido à falta de informações, colaboração e recursos.
A Bacia Amazônica enfrenta crescentes ameaças ambientais transfronteiriças, incluindo desmatamento, incêndios florestais, fragmentação de habitat, poluição e mudanças climáticas. Os países usam sistemas de monitoramento distintos que variam em escopo, métodos e definições, o que dificulta a comparação dos dados regionais. O monitoramento da água, do solo e da biodiversidade continua limitado. Embora existam ferramentas regionais, elas são pouco utilizadas pelos governos. Essa fragmentação enfraquece os sistemas de alerta precoce e a ação regional. Atualmente, faltam mecanismos de governança compartilhada que vinculem os esforços de monitoramento nacionais e locais sob uma visão regional comum. Uma abordagem de monitoramento coordenada e transfronteiriça é urgentemente necessária para melhorar a transparência, a elaboração de políticas e os esforços de conservação.
Planejar o desenvolvimento da infraestrutura por meio de estratégias regionais integradas
Autores principais
Rafael Soria
Instituto de Energia e Materiais, Universidad San Francisco de Quito,
Quito, Equador rsoriap@usfq.edu.ec
Roosevelt García-Villacorta Centro Peruano para la Biodiversidad y Desarrollo Sostenible
Iquitos, Peru roosevelt.garcia@gmail.com
A visão geral
Os grandes projetos de infraestrutura na Amazônia, como barragens hidrelétricas e estradas, levaram a um extenso desmatamento, à degradação do ecossistema, ao estabelecimento de economias ilegais e à interrupção da conectividade de florestas e rios. Atualmente, a maioria dos projetos de infraestrutura é desenvolvida isoladamente por países individuais, com pouca consideração por seus impactos socioeconômicos e ambientais nas sub-bacias vizinhas ou na Amazônia como um todo. Para lidar com esses impactos, os governos da Bacia Amazônica devem se engajar em diálogos e ações coordenados e transfronteiriços, com foco no planejamento e desenvolvimento sustentável da infraestrutura, considerando soluções baseadas na natureza, avaliação regional de projetos, tecnologia avançada e conhecimento indígena e local (consulte o Capítulo 4). Isso é essencial para levar em conta os impactos negativos cumulativos e transfronteiriços e garantir a conservação de longo prazo. 2 Figura C4.14.1. Trecho não pavimentado da BR 319, entre Humaitá e Realidade, no sul do Amazonas, Brasil. Crédito da foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real. da Amazônia. As principais prioridades incluem: (i) uma avaliação integral das fontes potenciais de projetos de energia verde (solar, eólica, hidrelétrica, geotérmica) com o menor impacto negativo e a maior produção de energia; (ii) planejamento hidrelétrico estratégico com base em cálculos para reduzir o impacto e a localização inteligente de pequenas instalações hidrelétricas - considerando que a definição de "pequenas" barragens varia significativamente entre os países, embora uma capacidade de até 10 MW seja cada vez mais reconhecida como o padrão internacional1 ; (iii) o gerenciamento de questões legais e responsáveis de mineração; (iv) a mitigação dos impactos ambientais do setor de hidrocarbonetos; e (v) alternativas à expansão de estradas.
João P. Braga
Instituto de Recursos Sustentáveis, University College London,
Londres, Reino Unido joao.pedrol.23@ucl.ac.uk
Sandra Belaunde School of GeoSciences, University of Edinburgh, Edimburgo,
Reino Unido sandra.belaunde@unsdsn.org
A visão geral
A região amazônica está enfrentando ameaças sem precedentes de desmatamento e degradação, aproximando o bioma de um ponto de inflexão em nível de sistema. Para evitar isso, vários projetos de restauração em pequena escala foram implementados. O mapa deste Chamado à Ação mostra o estado atual das prioridades de conservação da Amazônia e os níveis de perturbação em toda a bacia. No entanto, as abordagens fragmentadas existentes para a restauração não podem corresponder à escala das ameaças atuais à integridade do bioma, e a Amazônia ainda precisa urgentemente de iniciativas coordenadas de restauração em larga escala e em vários países. Este Chamado à Ação argumenta que, quando se trata de restauração, é necessária uma abordagem em nível de sistema para financiar a restauração em toda a bacia - juntamente com o controle do desmatamento e a redução das emissões de gases de efeito estufa - para evitar que a Amazônia caia em outro estado de vegetação.
Dolors Armenteras
Departamento de Biología, Universidad Nacional de
Colômbia, Bogotá, Colômbia; Instituto de Ciências Florestais, Instituto Nacional de
Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria, Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Madri, Espanha darmenterasp@unal.edu.co
Camila C. Ribas Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, Brasil camilaribas@gmail.com
A visão geral
A Amazônia é um mosaico complexo e interdependente de ecossistemas que sustenta bilhões de vidas. O desmatamento causou a perda de cerca de 18% da região amazônica, e 38% da floresta remanescente está degradada, interrompendo a conectividade ecológica e sociocultural, acelerando as emissões de carbono, exacerbando a insegurança hídrica e alimentar, causando instabilidade econômica e enfraquecendo a resiliência climática. O sistema pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, com modelos indicando que as transições do ecossistema podem afetar até 47% da área florestal até 2050.
Estabeleça a conectividade espiritual para conservar a Amazônia
Autores principais
José Gregorio Díaz Mirabal
Povo Wakuenai - Kurripaco, Atabapo, Venezuela
Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas, Puerto Ayacucho, Venezuela
Coordenador das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, Quito, Equador gmirabal66@gmail.com
A visão geral
Existem diversas formas de conectividade espiritual entre os Povos Indígenas (PIs), Povos Afrodescendentes (PAs) e Comunidades Locais (CLs), como Buen Vivir1 e Ubuntu, que compartilham um fundamento comum na ontologia relacional: todos os seres, humanos e não humanos, fazem parte do Ciclo da Vida. Nesse sentido, a espiritualidade estruturou sistemas de conhecimento coletivo que sustentam a coesão social, a resiliência ecológica e territórios com menores taxas de desmatamento na Amazônia; não é simplesmente um ornamento ou um aspecto da cultura, mas um princípio vital para o bem-estar coletivo. No entanto, essas formas permanecem em grande parte invisíveis e insuficientemente integradas às políticas de conservação, e não são reconhecidas como modos de governança ambiental.
Dolors Armenteras
Departamento de Biología, Universidad Nacional de
Colômbia, Bogotá, Colômbia; Instituto de Ciências Florestais, Instituto Nacional de
Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria, Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Madri, Espanha darmenterasp@unal.edu.co
Camila C. Ribas Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, Brasil camilaribas@gmail.com
A visão geral
A Amazônia é um mosaico complexo e interdependente de ecossistemas que sustenta bilhões de vidas. O desmatamento causou a perda de cerca de 18% da região amazônica, e 38% da floresta remanescente está degradada, interrompendo a conectividade ecológica e sociocultural, acelerando as emissões de carbono, exacerbando a insegurança hídrica e alimentar, causando instabilidade econômica e enfraquecendo a resiliência climática. O sistema pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, com modelos indicando que as transições do ecossistema podem afetar até 47% da área florestal até 2050.
Dolors Armenteras
Departamento de Biología, Universidad Nacional de
Colômbia, Bogotá, Colômbia; Instituto de Ciências Florestais, Instituto Nacional de
Investigación y Tecnología Agraria y Alimentaria, Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Madri, Espanha darmenterasp@unal.edu.co
Camila C. Ribas Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, Brasil camilaribas@gmail.com
A visão geral
A Amazônia é um mosaico complexo e interdependente de ecossistemas que sustenta bilhões de vidas. O desmatamento causou a perda de cerca de 18% da região amazônica, e 38% da floresta remanescente está degradada, interrompendo a conectividade ecológica e sociocultural, acelerando as emissões de carbono, exacerbando a insegurança hídrica e alimentar, causando instabilidade econômica e enfraquecendo a resiliência climática. O sistema pode estar se aproximando de um ponto de inflexão, com modelos indicando que as transições do ecossistema podem afetar até 47% da área florestal até 2050.
Ampliar a cogestão da pesca para transformar as estruturas de conhecimento e governança nos sistemas de produção da Amazônia
Autores principais
João V. Campos-Silva
Instituto Juruá, Manaus, AM, Brasil jvpiedade@gmail.com
A visão geral
A exploração excessiva na Amazônia ameaça os ecossistemas, a segurança alimentar e os meios de subsistência locais. O pirarucu (Arapaima gigas), ou arapaima, que é o maior peixe de água doce de escamas da Terra, sofreu um declínio acentuado devido à exploração excessiva. No estado do Amazonas, Brasil, a cogestão baseada na comunidade demonstra como a pesca sustentável pode integrar a conservação da biodiversidade ao bem-estar humano. Por meio de acordos de pesca, comunidades indígenas e ribeirinhas protegem territórios, restauram estoques de peixes e geram renda. Este Chamado à Ação mostra como o modelo de manejo do pirarucu fortalece a governança e as parcerias locais, reduz as desigualdades e promove a conservação, embora ainda existam desafios de infraestrutura, logística e mercado.
Capacitar as comunidades locais por meio de sistemas multifuncionais que abordem os conflitos territoriais e a fragmentação da paisagem
Autores principais
Paola J. Isaacs-Cubides
Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, Bogotá, Colômbia pisaacs@humboldt.org.co
A visão geral
O desmatamento e a degradação ambiental1 nos territórios dos Povos Indígenas e das Comunidades Locais (PIs e CLs) resultam em perda de florestas, fragmentação de habitats, perda de biodiversidade e conflitos socioterritoriais. Os PIs e as CLs são ameaçados por economias ilícitas, poluição da água, insegurança na posse da terra, práticas insustentáveis de uso da terra e falta de condições para sustentar seus modos de vida tradicionais 2. A promoção de cadeias de valor sustentáveis com base em sistemas multifuncionais fortalece os meios de subsistência dos PIs e das CLs e, ao mesmo tempo, promove o empoderamento territorial das comunidades.
Ampliar o acesso ao mercado das cooperativas de agricultores familiares na Amazônia
Autores principais
Hilder A. B. Farias
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil;
Lancaster Environment Centre, Lancaster University, Lancaster, Reino Unido (pesquisador visitante, bolsista do CNPq).
hilder033@gmail.com
Anderson Borges Serra
Faculdade de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil
serraok@ufpa.br
Harley Silva
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil,
harley74@gmail.com
A visão geral
A agricultura familiar amazônica está enraizada em sistemas de produção multifuncionais, intimamente relacionados à subsistência dos agricultores familiares e das comunidades locais, e é essencial para a segurança alimentar, a diversidade cultural e a resistência territorial no contexto de uma fronteira socioambiental pressionada1. Esse grupo carece do que é necessário para alavancar políticas públicas que ampliem suas oportunidades de acesso às cadeias de suprimentos, vinculando seus estabelecimentos e cooperativas a mercados institucionais estáveis, bem como a cadeias curtas de suprimento de alimentos, e capacitando-os na governança para que o desenho de políticas reflita suas necessidades e conhecimentos.
Apoiar a pesca biodiversa que sustenta a saúde das pessoas e da natureza
Autores principais
Sebastian A. Heilpern
Departamento de Ciência do Sistema Terrestre, Universidade de Stanford, Stanford, CA, Estados Unidos heilpern@stanford.edu
A visão geral
A pesca é a base da segurança alimentar e dos meios de subsistência de milhões de pessoas em toda a Bacia Amazônica, mas está mudando devido a fatores que incluem a superexploração, a degradação do habitat e as mudanças climáticas. Outras atividades extrativistas, como a mineração artesanal de ouro, estão poluindo as águas, elevando os níveis de mercúrio nos peixes e minando a capacidade da pesca de sustentar a nutrição humana. Ao mesmo tempo, juntamente com o ritmo acelerado da urbanização, os sistemas alimentares da Amazônia estão mudando, com a aquicultura se expandindo rapidamente ao lado de outros alimentos de origem animal, como carne bovina e aves. Manter o acesso a pescarias produtivas e biodiversas é fundamental para a segurança e a soberania alimentar da Amazônia, a integridade do ecossistema e a redução da pegada ambiental geral dos sistemas alimentares.
Crie cadeias de suprimentos globais equitativas para produtos da biodiversidade amazônica e, ao mesmo tempo, proteja as florestas em pé e os rios caudalosos
Nas últimas décadas, grandes indústrias se desenvolveram em torno de commodities de uma ampla gama de espécies nativas da Amazônia. Essas commodities oferecem oportunidades para promover empreendimentos regionais e aumentar a escala da atividade econômica que depende das florestas em pé e dos rios caudalosos da Amazônia. Embora a comercialização de espécies nativas da Amazônia possa apoiar a proteção de florestas e rios em territórios indígenas, terras de afrodescendentes e áreas protegidas, ela também apresenta grandes desafios: a dinâmica de expansão e retração dos mercados globais, as dificuldades de distribuir riscos e recompensas de forma equitativa e a falta de reconhecimento formal dos direitos e da propriedade intelectual dos povos indígenas (PIs) e das comunidades locais (CLs). Os produtos amazônicos também têm sido exportados principalmente como commodities, com poucos processos de valor agregado ocorrendo em nível local. A regulamentação frágil e a coordenação deficiente com as autoridades locais minaram ainda mais as práticas tradicionais sustentáveis e aumentaram o risco de exploração excessiva.
Pescarias biodiversas sustentam a saúde das pessoas e da natureza
Autores principais
Sebastian A. Heilpern
Departamento de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade de Stanford, Stanford, CA, Estados Unidos
heilpern@stanford.edu
A visão geral
A pesca é a base da segurança alimentar e dos meios de subsistência de milhões de pessoas em toda a Bacia Amazônica, mas está mudando devido a fatores que incluem a superexploração, a degradação do habitat e as mudanças climáticas. Outras atividades extrativistas, como a mineração artesanal de ouro, estão poluindo as águas, elevando os níveis de mercúrio nos peixes e minando a capacidade da pesca de sustentar a nutrição humana. Ao mesmo tempo, juntamente com o ritmo acelerado da urbanização, os sistemas alimentares da Amazônia estão mudando, com a aquicultura se expandindo rapidamente, juntamente com outros alimentos de origem animal de criação, como carne bovina e aves. A manutenção do acesso a pescarias produtivas e biodiversas é fundamental para a segurança e a soberania alimentar da Amazônia, a integridade do ecossistema e a redução da pegada ambiental geral dos sistemas alimentares.
Desenvolver novos produtos comercializáveis da sociobiodiversidade amazônica
Autores principais
Ricardo de la Pava
Pesquisa e desenvolvimento de economias locais, Fundación Gaia
Amazonas, Bogotá, Colômbia ricardodelapava@gmail.com
A visão geral
Apesar da enorme biodiversidade da Amazônia, poucas de suas espécies são manejadas e vendidas no mercado. Os novos produtos comercializáveis da sociobiodiversidade amazônica são escassos devido à falta de (1) confiança, (2) protocolos bioculturais claros e (3) inventários botânicos que possam facilitar o compartilhamento e a identificação do Conhecimento Indígena e Local (ILK) sobre a biodiversidade, a fim de abrir novas oportunidades de mercado e alocar mão de obra. Os produtos tradicionais dos Povos Indígenas (PIs) e das Comunidades Locais (CLs) não estão inseridos no mercado porque exigem uma pesquisa local rigorosa e estruturas jurídicas nacionais e regionais que permitam uma relação direta, porém justa, entre o ILK e as Ciências Acadêmicas Ocidentais e o desenvolvimento industrial. Este Chamado à Ação explora oportunidades para identificar novos produtos da sociobiodiversidade amazônica e levá-los ao mercado.
A rápida expansão e o crescimento extrativista dos setores tradicionais e dos produtos florestais não madeireiros (PFNMs) se intensificaram. A crescente demanda global por açaí, por exemplo, transformou planícies de inundação biodiversas em monoculturas, reduzindo a diversidade de espécies e comprometendo as funções vitais da floresta. O escalonamento responsável das socioeconomias que respeitam os limites e os princípios relacionados à sustentabilidade exige métodos alternativos de escalonamento, como policulturas de plantas mais diversificadas que sejam compatíveis com a biodiversidade e/ou realizem a restauração em larga escala. Além disso, são necessárias tecnologias e infraestrutura para apoiar as iniciativas biológicas e culturais que sustentam a sociobioeconomia, incluindo a tradução do conhecimento indígena e local e das lógicas florestais em princípios práticos econômicos e de design, como a circularidade de produtos e materiais, para orientar os aumentos de escala. Este Chamado à Ação descreve esses princípios e fornece recomendações para orientar o aumento de escala responsável para apoiar a conservação de longo prazo da Bacia Amazônica, incluindo o bem-estar de seus residentes.
Compartilhe os benefícios de forma equitativa com os atores e as comunidades locais
Autores principais
Germán I. Ochoa
Universidad Nacional de Colombia, Kilómetro 2, vía Tarapacá. Leticia, Colômbia, 9100001 giochoaz@unal.edu.co
Diego Oliveira Brandão
Painel Científico para a Amazônia, Escritório da América do Sul, São José dos Campos, Brasil diegobrandao779@gmail.com
A visão geral
A economia da Amazônia é dominada por commodities agrícolas, como carne bovina e soja, produtos baseados na biodiversidade, como o açaí e a castanha-do-pará, e produtos minerais, como o ouro, todos produzidos e exportados com baixo valor agregado localmente. Esses setores geralmente incorporam as populações locais rurais e urbanas às cadeias globais de commodities, muitas vezes de forma desigual. O atual modelo econômico de produção de uso da terra produziu as maiores taxas de desmatamento e degradação tropical do mundo, sendo que a região amazônica é responsável pela maioria da população da América do Sul que vive na pobreza. Embora os povos indígenas tenham domesticado centenas de espécies nativas e descoberto substâncias, aromas e sabores essenciais para os setores alimentício, cosmético e farmacêutico, eles continuam excluídos da distribuição justa dos benefícios. O fortalecimento das conexões econômicas e sociais entre as partes interessadas locais "urbanas" e "rurais" representa uma oportunidade (e um desafio!) para reforçar as cadeias de valor locais e garantir a distribuição justa e inclusiva dos benefícios.
Promover o desenvolvimento tecnológico ético, justo, soberano, inclusivo e orientado localmente
Autores principais
Juan Sebastián Ulloa
Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, Bogotá, Colômbia
julloa@humboldt.org.co
Marina Hirota
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
Instituto Relva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
marinahirota@gmail.com
A visão geral
Na Amazônia, a tecnologia tem o poder de consolidar a desigualdade - aprofundando a dependência, apagando os sistemas de conhecimento local e indígena e extraindo dados para obter lucro em outros lugares - ou de fortalecer a soberania, elevar a inovação indígena e cocriar futuros de conservação justos. O sucesso depende da equidade, da transparência e da participação inclusiva na forma como a tecnologia é desenvolvida e aplicada1. A conservação está sendo transformada por inovações tecnológicas, como o monitoramento por satélite2, 3, 4, 5, DNA ambiental6, monitoramento acústico, armadilhas fotográficas e inteligência artificial (IA)7, 8, 9. Essas tecnologias podem apoiar uma sociobioeconomia regional próspera na Amazônia, mas somente se forem moldadas e respeitarem totalmente o conhecimento e as prioridades locais.
Financiar, conectar e fortalecer a ciência para uma Amazônia viva
Autores principais
Adalberto Luis Val
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Pesquisas em Ecologia, Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular, Manaus, AM, Brasil dalval.inpa@gmail.com
Jacques Marcovitch
Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Instituto de Relações Internacionais, São Paulo, SP, Brasil jmarcovi@usp.br
Tiago da Mota e Silva
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Pesquisas em Ecologia, Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular, Manaus, AM, Brasil tiagomotasilva@gmail.com
A visão geral
O desenvolvimento de um futuro sustentável para a Amazônia, que conserve o meio ambiente e promova o bem-estar, requer uma base sólida em ciência, tecnologia e inovação (CTI), com fortes centros regionais de pesquisa moldados pelas prioridades locais. A Amazônia enfrenta grandes desafios em CTI que devem ser abordados nesta década: subfinanciamento crônico, coordenação regional fragmentada, dependência de recursos internacionais, treinamento insatisfatório e retenção de pessoal qualificado, desigualdades acentuadas e falta de liderança local na elaboração de projetos. Essas barreiras prejudicam a transformação da pesquisa em oportunidades tangíveis com impacto social. A questão central é determinar como projetar e implementar estratégias que fortaleçam as instituições científicas da Amazônia e sua capacidade de liderar as agendas de pesquisa, ao mesmo tempo em que fomentam o diálogo sensível às demandas locais e aos sistemas de conhecimento.
Pare com o epistemicídio e apoie as ciências indígenas e locais para uma Amazônia resiliente
Autores principais
Rafael L. G. Raimundo
Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Laboratório de Cartografia e Geoprocessamento, Laboratório Misto Internacional sSobre Sustentabilidade IDEAL, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto, PB, Brasil
rafael.raimundo@academico.ufpb.br
O apagamento das Ciências Indígenas e Locais (ILS) e de outros sistemas de conhecimento tradicional prejudica a biodiversidade, acelera o colapso do ecossistema e facilita a biopirataria2. É necessária uma ação crítica para apoiar e valorizar a produção de conhecimento local, proteger e disseminar cosmovisões que conservem os ecossistemas e promover inovações socioecológicas3. Estratégias e investimentos integrativos que apoiem o ILS são urgentemente necessários como catalisadores para territórios resilientes4 na Amazônia4. Os ILS são cruciais para os três pilares que sustentam uma Amazônia viva: (iI) a conservação e a restauração da integridade ecológica, (iiII) as socioeconomias baseadas na comunidade que apoiam a equidade e o bem-estar, e (iiiIII) o empoderamento das instituições locais e dos sistemas de governança.
Síntese para Povos Indígenas, Comunidades Locais e Povos Afrodescendentes
Sobre a autoria
Esta síntese baseia-se diretamente no Resumo Executivo AR2025 e no relatório completo preparado pelo Painel Científico para a Amazônia. As mensagens relacionadas aos Povos Indígenas, às Comunidades Locais e aos Povos Afrodescendentes foram compiladas por meio de um processo participativo coordenado por André Braga Junqueira e Jaime Serrano, com contribuições de autores indígenas e não indígenas nos capítulos AR2025 e com o apoio da Secretaria o SPA . A elaboração envolveu revisões iterativas para garantir a fidelidade às conclusões do relatório e a relevância para as realidades territoriais.
Sobre o documento
Este documento reúne as principais mensagens e recomendações do Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 (AR2025) relacionadas aos Povos Indígenas, Comunidades Locais e Povos Afrodescendentes. Os dados e recomendações aqui apresentados têm como objetivo servir como ferramenta prática para apoiar processos de conservação e defesa territorial, estratégias de advocacy lideradas por Povos Indígenas e Comunidades Locais para a promoção da vida e a rede de relações que mantém a Amazônia e todo o planeta em equilíbrio.
O Manifesto da Juventude Amazônica é uma declaração coletiva de autoria do Comitê Consultivo de Jovens do Painel Científico para a Amazônia (SPA YAC), fundamentada nas percepções, ideias e contribuições de mais de 200 jovens cientistas e líderes de toda a região amazônica. Ele surgiu a partir de cinco workshops participativos que reuniram jovens de todos os oito países amazônicos e do território ultramarino da Guiana Francesa, refletindo uma visão compartilhada para fortalecer a conectividade ecológica, sociocultural e econômica da região na preparação para a COP30 em Belém, Brasil.
Sobre o documento
O documento resultante sintetiza as principais conclusões dessas discussões e oferece recomendações aos governos, à sociedade civil, aos povos indígenas e comunidades locais, ao meio acadêmico e ao setor privado, apresentando uma visão regional unificada da juventude para a Amazônia que complementa os esforços mais amplos da o SPAe o lançamento de seu Segundo Relatório de Avaliação da Amazônia.